4 de janeiro de 2012

Inteligência Artificial


O natural desejo de evolução do homem, a partir do momento que desenvolveu raciocínio lógico, deverá constantemente impulsionar a pequisa para o melhor, para o perfeito, infinitamente. É uma espécie de instinto. O ponto aqui é que poucos podem estar percebendo, no contexto desta discussão, que nossos corpos também são máquinas, ainda diferentes das atuais que são compostas de elementos metálicos, plástico-resinosos e minerais vítreos, entre outros. Nós, no entanto, somos compostos de tecidos orgânicos, muito mais complexos, sistemas bio-orgânicos auto-desenvolvidos ao longo de milhões de anos, assim nos mostra a Ciência. Ao meu ver essa é a diferença básica daquilo que hoje denominamos "máquinas" e "não-máquinas". Na medida que a pesquisa sobre a inteligência artificial evolui, essa "diferença", creio eu, deverá se extinguir até a fronteira do imperceptível, onde veremos mentes conscientes, tais como somos hoje, habitar "máquinas-organismos" que já estarão na esfera do auto-desenvolvimento, sem que precisemos colocar mais a mão em nada.

Maravilhosa esta visão não? No entanto, aqui entram em cena várias questões a serem abordadas e profundamente discutidas: A ética de valores morais construtivistas e voltados à preservação daquilo que entendemos como "vida". Assim o é hoje com nossos corpos mentes, assim como também o é com todos os demais seres existentes no universo. Em uma abordagem antropológica vejo que nossa espécie apenas estará sendo o artífice de surgimento de uma nova "espécie" de ser ultra-poderoso. Um ser que não mais necessitará das "manutenções" feitas por outros seres, porque simplesmente elas não serão mais necessárias e porque eles mesmos surgirão assim, com grande capacidade de auto-preservação, continuidade e evolução orgânica. Assim como é em toda a manifestação da vida no universo.

O homo sapiens, tal como é hoje, até poderá deixar de existir neste futuro, porém certamente o será por sua própria responsabilidade e não a de outra espécie mais perfeita e capaz, mesmo que esta espécie tenha surgido por meio da capacidade dele, homo sapiens. Como será chamada esta espécie? Caso a natureza a desenvolva como humanóide antropomórfico, poderá ser denominada homo conscientis? E será que não está na hora de nos despedirmos das velhas crenças emocionais sem fundamentação científica e nos libertarmos de vez dos estigmas paternalistas de criação e criador para perceber que somos parte integrante e inseparável de todo o universo, assim como todos os demais seres e formas de vida, indistintamente?

Penso que somente abandonando estes paradigmas, poderemos conviver, de forma realmente humilde com a realidade do fenômeno da vida, que deverá se manifestar através de nossas capacidades em uma forma de vida mais aperfeiçoada e, quem sabe no futuro distante, esta forma de vida, em harmonia com o universo, alcance alguns objetivos de nossos sonhos de perfeição que constam em nossas lendas, crenças e mitologias?

Tenho a percepção que este tema merece nossa inesgotável e cuidadosa atenção, no que tange à antropologia de um modo geral e nas questões jurídicas e sociais que deverão envolver esta discussão, sob pena de no futuro estarmos criando um cenário de segregação de espécies, um tipo de racismo turbinado e ai sim, darmos início a tudo aquilo que as predições sombrias das ficções tem feito sobre o tema das máquinas x homens.

Apenas para retificar, a pesquisadora Genevieve Bell no artigo da BBC que me inspirou, referiu-se ao cineasta James Cameron como sendo quem imaginou o tema do romance "1984", publicado originalmente por George Orwell em 1949. James Cameron apenas dirigiu o filme e trabalhou no roteiro baseado na obra original de Orwell.