12 de setembro de 2011

O virtual e o real

Quem conheceu a Internet a 15 anos atrás sabe que isso tudo o que vemos hoje é algo completamente distante daquela realidade que estávamos começando a ver e se deslumbrar. Era algo facinante ver que um PC podia se comunicar com outro, através de uma simples linha telefônica, através de um modem com a capacidade de espantosos 14.600 kbps de transferência de dados, se não estou enganado era isso. Bem, na verdade, eu fiquei bem decepcionado quando, estático diante de uma página html bem simples com algumas fotinhos bem leves, que levou muitos, muitos minutos para carregar. Francamente, eu aguardava algo como aquilo que estamos vendo hoje. Que ingênua pretensão a minha né. Porém, para felicidade geral da nação, as coisas evoluiram e até que não demorou muito se for ver, hoje estamos andando a passos largos para uma completa convivência em ambiente virtual, de trabalho, de lazer, de estudo e de tudo o mais que seja possível de se realizar em nível de relacionamento.

Pessoalmente sou um tanto avesso à expressão 'virtual'. Isso me passa a ideia de algo de outro mundo, do 'além', e dessas coias místicas e invisíveis que certas pessoas apenas acreditam que exista mas nunca conseguem ver e muito menos provar de forma irrefutável a sua afirmação. Sentiram-se atraídas pela ideia fantástica e impressionante, perceberam que aquilo preenche os seus anseios de completude de lacunas de seu ser (até porque isso é da natureza psíquica do ser humano) e passam a sentir-se bem e psicologicamente confortável. Então passam crer profundamente e de maneira inabalável naquela percepção e ainda afirmam categoricamente que sentiram de fato, no fundo de eu coração, que aquele objeto de sua crença, sim existe de verdade! Ora, existir 'de verdade' também é um conceito bastante amplo e de discussão complexa, que permite todo o tipo de conjectura. Quem não lembra de Matrix, a famosa trilogia de ficção dos irmãos Wachonski, que  fez enorme sucesso a uns dez anos atrás? Exatamente em uma época em que a Internet estava alcançando seu ápice de interesse pelo grande público e onde a partir do ano 2000, quando se percebeu que o temor do 'bug do milênio' já havia passado, as atenções do mundo corporativo convergiram drasticamente para o ambiente da web, chamado 'virtual'.

É exatamente aqui que inicia a se desenvolver o conceito popularizado de 'mundo virtual', um local mágico onde as pessoas poderiam assumir outras identidades, sentirem-se mais seguras e protegidas por detrás de seus computadores. Essa mesma segurança que também estimulou o surgimento da criminalidade cibernética, os crackers, vândalos do mundo digital que possuem uma 'ética' própria (aliás, todo criminoso possui, em seu mundo particular e sem lei, uma ética própria de conduta, regras e punições, de acordo com seus conceitos). Cito a expressão 'cracker', porque é muito comum hoje em dia, e após todos esses anos, vermos que ainda muitas pessoas estimuladas por meios de comunicação de massa, desprovidos de 'massa encefálica', denominar de 'hacker' esses vândalos e criminosos que cito acima. Isso é um enorme engano e no mínimo falta de cultura. Assim a população leiga segue pensando que hacker é aquele criminoso que age pela Internet para executar seus roubos e trapaças. Hacker é outra coisa absolutamente diferente! É um conceito comportamental daqueles que possuem características pessoais incomuns, são jovens, ou muitos não tão jovens, geniais e criativos, inovadores e inteligentes, perspicazes e sagazes, irreverentes e até incompreendidos, que são, hoje em dia, visados pelas corporações para ocuparem cargos estratégicos no desenvolvimento de novas tecnologias para todo o tipo de solução empresarial. Muitas vezes contratados a 'peso de ouro' e retidos a 'peso de platina' porque de dentro de suas mentes saem as soluções que vai definir a sobrevivência daquela empresa.

Mundo virtual, voltando então ao início de meu argumento, tem tudo a ver com isso que falei e exatamente por isso não simpatizo com a expressão virtual neste contexto. Ela projeta, como já disse, uma visão distorcida de realidade paralela, onde as coisas que vemos e sabemos que são do jeito que são, lá 'do outro lado', dentro da Internet, se tornam diferentes. Penso que isso se iniciou como uma espécie de mito, gerado pelo imaginário popular, logo em seguida que a Internet surgiu e começou a chamar a atenção das pessoas, principalmente pelo fato de que através dela era possível conversar com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, utilizando-se de computadores. Aliás, computadores eram máquinas mágicas e meio desconhecidas, que tudo podiam fazer, manejadas por pessoas com jeito estranho e misterioso. Poder possuir uma dessas em casa e ainda poder falar em tempo real com outra pessoa, seja onde for que ela estivesse, significava algo realmente fantástico, algo que sintonizava as fantasias sci-fi das pessoas e que as completava por isso. Imaginemos com isso que essa "completude" permitiu, em muitos casos, que as pessoas sentissem uma liberdade muito maior do que a possível com o telefone. Não era necessário expor nem a própria voz, apenas escrever, com um nome diferente até e estava tudo garantido. Doces anos...

O fato é que de lá para cá muitas coisas mudaram.

segue..

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